Times locais reclamam que não recebem patrocínio público, como outros
times do Nordeste. Gestores exigem trabalho social em contrapartida
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Parcerias entre o poder público e os clubes profissionais de futebol são comuns em todo o país. Em muitos casos, dão frutos positivos. No Piauí, no entanto, a prática ainda não é muito difundida, o que gera reclamação por parte dos dirigentes. Por outro lado, representantes da gestão pública alegam que os clubes locais não se organizam o suficiente para dar uma contrapartida ao incentivo.
Este tipo de parceria ocorre com o patrocínio de prefeituras e governos estaduais para os times. Em geral, são exigidas no contrato algumas contrapartidas, como a publicidade no uniforme e a realização de trabalhos sociais através do esporte. O sucesso, claro, não é garantido, mas bons exemplos estão aí para serem vistos.
O mais recente caso bem sucedido vem do futebol paraibano, que teve o seu ano de ouro em 2013. Na capital, o programa “João Pessoa de Todas as Torcidas” foi lançado para fortalecer o futebol da cidade e também como parte do projeto para trazer uma seleção participante da Copa do Mundo para a cidade. Houve patrocínios para os clubes que foram distribuídos seguindo critérios como tradição, dimensão, títulos e participação em competições nacionais.
O resultado foi proveitoso e teve o seu auge com o Botafogo-PB, que recebeu a maior parte do bolo durante o Estadual e, com um grande reforço extra, foi campeão da Série D do Campeonato Brasileiro. No total, foram mais de R$ 1 milhão investidos no clube. A prefeitura de Campina Grande, no interior do estado, também investiu nos seus times. Ao fim da temporada, o saldo foi o Campinense campeão da Copa do Nordeste e o Treze batendo na trave ao tentar o acesso para a Série B, depois de ter a melhor campanha da primeira fase da terceira divisão.
A realidade do estado
A situação do futebol piauiense não está tão boa como a do vizinho nordestino. Sem ter nenhum representante nas três primeiras divisões do Campeonato Brasileiro, os clubes começam seu planejamento praticamente do zero a cada ano. O investimento do poder público é algo visto pelos times como uma possível solução para melhorar o cenário local.
- A constituição diz que o Estado tem que dar lazer e entretenimento para a sociedade. Não é justo só o poder privado fazer isso, apesar dos ganhos financeiros que tem. O Estado tem que colaborar, em todo o Brasil acontece isso. Não é nada de graça. É um patrocínio e dá visibilidade – diz o presidente do Flamengo-PI, Jankel Costa.
A maioria dos dirigentes concorda que o patrocínio público no estado deveria existir pelo menos de forma provisória, até que os clubes pudessem se estruturar e não mais depender desta verba. É o que diz Jacob Júnior, presidente do Piauí. Ele acredita que os bons resultados conseguidos com este patrocínio trariam de volta os torcedores piauienses aos estádios.
- Esse dinheiro poderia alavancar um bocado de coisas. Um estádio no Maranhão hoje é lotado, e é a partir desses momentos que você vê que os clubes têm condições de andar com os próprios pés. Todos os estados do Nordeste têm esse investimento – afirma.
Elizeu Aguiar, presidente do River-PI, faz coro aos colegas. Ele cita, além do Botafogo-PB, o exemplo do Sampaio Corrêa, que está na final da Série C, contando que ambos tiveram bons resultados com folhas salariais de mais de R$ 200 mil, o que é inviável para qualquer clube piauiense. Tentando mostrar os motivos que o poder público teria para realizar este investimento, ele elenca alguns fatores.
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- A própria camisa do clube pode ser usada como um agente publicitário. Outra alternativa seria usar as sedes sociais dos clubes para programas com crianças de escolas públicas, fazer as escolinhas e propiciar lazer. Os clubes têm que dar essas contrapartidas, ou então não deve ter esse patrocínio mesmo – defende o dirigente.
Este patrocínio, claro, não pode ser visto como garantia de grandes resultados, como o próprio cenário piauiense mostra. Se na capital os clubes se mantém com pequenos aportes de empresários, no interior do estado as prefeituras são as principais mantenedoras das equipes. À nível estadual o retorno até existe, como aponta o retrospecto: nas últimas dez edições do Campeonato Piauiense, em oito o troféu ficou fora da capital.
No entanto, o sucesso não se repete quando os times vão representar o estado no cenário nacional. Um time piauiense nunca chegou sequer a segunda fase da Série D do Campeonato Brasileiro. A exceção fica por conta do Barras, que chegou à última fase da Série C em 2007, mas não conseguiu garantir o acesso. Na época, o patrocínio da prefeitura da cidade para a agremiação beirava os R$ 100 mil mensais, o que não se manteve depois.
- Ali nós tivemos a sorte de contar com dois grandes treinadores, que foram o Paulo Moroni e o Flávio Araújo. Até 2010 se manteve o nível desse repasse da prefeitura, mas depois caiu e o time não conseguiu mais repetir os bons resultados – afirma Manoel Cordeiro, vice-presidente do clube.
Sem organização, não dá
Além das prefeituras no interior do estado, o governo do estado também auxilia os clubes em alguns momentos, embora não de forma constante. O que se nota é a falta de planejamento e continuidade que garantam resultados positivos. Dirigentes reclamam de dinheiro proveniente de programas anteriores que nunca foram pagos. Em 2013, o governador Wilson Martins prometeu uma ajuda para os times no Estadual no mês de março. O dinheiro só foi repassado em novembro, quando já havia se encerrado a temporada.
A prefeitura de Teresina, atualmente, não apoia nenhum time da capital, e o secretário de esportes e lazer, Galba Coelho, culpa os clubes por isso. Ele diz que os clubes locais não são bem administrados e que gastam muito dinheiro trazendo jogadores de fora, que além de não corresponderem em campo também vão embora tão logo acabe o campeonato para o qual foram contratados.
- Querem dinheiro (os dirigentes) para montar times com um monte de refugos horríveis vindos de fora, que estão em fim de carreira e vem ganhar dinheiro aqui. Passa o campeonato e eles vão embora, sem nenhum vínculo com a cidade, não fica nada aqui. Assim não se faz esporte – afirma o secretário.
Para Galba, o que os clubes locais deveriam fazer era investir nas categorias de base, o que justificaria um apoio do poder público, já que haveria um trabalho social sendo feito. A realidade, no entanto, contrasta com isso e inviabiliza a possibilidade de um acordo.
- Nós organizamos a Copa Sub-15 que conta com 75 clubes, e adivinhe quantos estão vinculados à Flamengo-PI, River-PI, ou Piauí? Nenhum. Garotos daqui são aprovados em peneiras fora do estado, mas não têm chance aqui – conta Galba.
O secretário se diz aberto a ouvir sugestões dos clubes para possíveis parcerias, mas que com o atual modelo de gestão não deve ser aprovado nada. Até lá, sem organização e sem dinheiro, restam aos torcedores esperar que a situação do futebol local melhore, com ou sem o apoio do poder público.
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