sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

RAIO X DOS CLUBES PIAUIENSE PARTE II


CAIÇARA E COMERCIAL


Patinho feio, Leão do Norte mira título. Fora da elite, rival Bode aposta em base

Terra do mais sangrento confronto na guerra da Independência do Brasil, Campo Maior – cidade do interior do Piauí – tem o orgulho de ter defendido no longínquo 13 de março de 1823 a unidade do território brasileiro na “Batalha do Jenipapo” contra as poderosas tropas portuguesas. Além da história, contatada por Laurentino Gomes no livro 1822, os 46 mil habitantes da cidade piauiense também têm a tradição da carne de sol na culinária, os carnaubais da exuberante vegetação e a paixão irrestrita a dois clubes da cidade: Caiçara e Comercial-PI. No século XXI, a dupla “Caco” tem uma luta árdua nos gramados: reconquistar o espaço de cada um no futebol piauiense.

A Prefeitura de Campo Maior, segundo números da diretoria do Caiçara, desembolsou R$ 100 mil – divididos em cinco parcelas – ao longo do Estadual deste ano. Em 14 jogos no Campeonato Piauiense, o clube somou seis pontos. Foram 10 derrotas, três empates e apenas uma vitória. Levou 34 gols, marcou nove e aumentou em 60% as despesas com deslocamento, segundo levantamento interno. A campanha fraca trouxe o apelido de “patinho feio”, rebatida de forma irônica pelos dirigentes.
O bom humor, aliás, é uma característica marcante do Leão do Norte. O presidente Francisco Ispo chegou a convidar a seleção brasileira para um amistoso, após a humilhante derrota por 7 a 1 para a Alemanha na Copa do Mundo. As gargalhadas, porém, foram interrompidas após a denúncia de trabalho escravo feita pelo Sindicato dos Atletas Profissionais do Estado. A entidade alegou falta de material esportivo e as condições precárias. O clube nega.

Francisco Ispo prefere esquecer o episódio da escravidão e faz planos para o próximo ano. Imaginando um Caiçara forte, o dirigente não descarta – quem sabe – o primeiro título na trajetória do clube.

Enquanto vê o principal rival em maus lençóis, o Comercial-PI padece longe da elite do futebol piauiense e reúne os cacos. Campeão piauiense em 2010 e vice no ano seguinte, o Bode é o time piauiense em melhor colocação no ranking nacional dos clubes da CBF. Posição que enche o presidente Arnaldo Pericó de orgulho ao deixar “os grandes” para trás.



Diferente do Caiçara, o Comercial-PI não aceitou participar do Estadual com o Deusdeth de Melo fechado. O clube alegou “prejuízos irreparáveis”, decisão que não gerou lamentação aos dirigentes da equipe rubro-anil.

- A questão financeira é um problema crônico em todo o nosso futebol. Todos os times do interior recebem dinheiro da prefeitura, que não é obrigada a pagar, ou melhor, ajudar aos clubes profissionais. Quem deveria fazer isso eram as empresas, porque é uma troca em divulgar as imagens. Sem a nossa praça de esporte, o Deusdeth de Melo, tivemos experiências horríveis. Por isso, a falta do estádio foi um pilar para o Comercial se ausentar.

Fora das competições profissionais, a alternativa do Bode foi investir nas categorias de base. O clube conta com 45 meninos registrados. Pericó confia em bons resultados. Este, pelo menos, é o desejo de todos.



CORI-SABBÁ


Choque de realidade: a gestão como plano de sobrevivência do Alvinegro

Mal sabia Jader que amargaria um dos piores momentos na sua carreira de jogador de futebol. O ostracismo forçado após o término do Campeonato Piauiense dificultou a vida do lateral-esquerdo do Cori-Sabbá este ano. A sexta colocação geral do time não foi bem digerida por ele e os companheiros. Contudo, um outro fator desmotivou a equipe alvinegra em Floriano: a falta de exposição dos jogadores no mercado brasileiro com a inexistência de calendário de jogos no segundo semestre. As faturas do cartão de crédito de Jader chegam acompanhadas de um aviso mental sobre a necessidade de se desdobrar em outra profissão para contornar o baque financeiro dentro de casa. Enquanto isso, um novo baque: a Águia vai ficar fora do Estadual 2015 por incapacidade financeira.

- Em termos de calendário, é muito complicado jogar no Piauí. As pessoas visam muito ao Estadual, pois tem muitas vagas: Copa do Nordeste, Copa do Brasil e Série D. Às vezes, o segundo semestre fica esquecido, que poderia ser melhor e dar oportunidade a todos durante o ano. Falta um pouco de visibilidade nacional para os jogadores aqui - avalia o lateral.
As dificuldades financeiras, por sinal, sempre foram fiéis companheiras da Águia de Floriano. A estreia em campeonatos piauienses há mais de 20 anos foi marcada por entraves ainda hoje cristalizados no clube.

- Naquela época, tivemos inúmeros problemas. Historicamente, nossas dificuldades sempre foi essa. Em 1991, tínhamos sete jogadores de Floriano no time principal. Era uma boa equipe. Hoje, faltam projetos. E mais: profissionalismo. Ninguém vai colocar sua empresa onde você não tenha retorno. Qual retorno? É a transmissão de uma TV, é a própria participação de um clube no campeonato. Aí, sim, é possível se falar em retorno. Com pessoas qualificadas, você tem sucesso - frisa Rilmar Araújo, o Bocó, primeiro treinador do Cori-Sabbá em Estaduais.

Uma das principais joias reveladas no município, portão de entrada para os cerrados piauienses, Faustivânio Venâncio - ou Vanim - rodou por clubes do sul do Brasil, em especial o Fluminense, quando foi lateral-esquerdo em 2000. Para Vanin, como é conhecido no mundo da bola, o modelo de gestão desenvolvido pelos clubes do Piauí é defasado e precisa de uma mudança urgente de filosofia.

Ainda que as críticas emanem de quaisquer cantos do estádio Tibério Nunes, palco dos jogos do Cori-Sabbá, os gestores do clube insistem em fortalecer o elo com o poder público. A mais recente aproximação rachou a família de José Bruno, atual presidente e empresário no município. As contas do clube não fecharam e o patrimônio pessoal precisou suprir os gastos com a temporada.

PICOS


Salto, mel e brilho: Abelhas Rainhas ofuscam homens nos campos de Picos
A cada gole de café feito por dona Germana na venda de bolos em uma barraca armada próximo ao estádio Helvídio Nunes, lembranças das mais diversas vêm à mente. Uma delas é inevitável. O alvoroço causado nos arredores de Picos, a 300km de Teresina, com a disputa da Copa do Brasil feminina, rendeu mais que o terceiro lugar geral na competição ao time que levava o nome da cidade. À época, os moradores do município experimentaram momentos vibrantes, vividos apenas quando o time masculino despontou nacionalmente na década de 1990. Contudo, o sonho promete ser revivido. O bicampeonato da Copa Piauí feminina conquistado em dezembro, desta vez emancipadas com o nome Abelhas Rainhas, fez aumentar o fosso existente entre as equipes masculinas e femininas da Cidade do Mel.

A Copa Piauí deste ano se tornou novamente atalho para que as abelhas voltem a brigar novamente pelo segundo principal título brasileiro da categoria. Volante e uma das líderes da nova equipe, Elaine valoriza a evolução do time nos últimos meses.

- No começo foi muito difícil. A gente chegou pela Copa Piauí, na raça, porque era bem difícil com a nossa estrutura. Só tínhamos apoio de carro dado pela Prefeitura de Picos. A gente chegava na sede dos outros times com um colchãozinho para descansar à tarde. Foi bem difícil. Depois que ganhamos a vaga na Copa do Brasil, passamos a ser conhecidas. Viram que o time feminino teve garra e, primeiramente, fé. Eles perceberam que nós podíamos ser grandes em Picos.

As péssimas condições de trabalho se tornaram dissabores cada vez mais íntimos. A dura realidade dos homens encarada pelas mulheres nesta nova temporada força um trabalho de reflexão. Uma das alternativas - e principal alvo dos gestores da região - é a classe empresarial da cidade, uma das maiores do estado. De acordo com a Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL), há pelo menos 300 empresários na região, entre grandes, médios e pequenos investidores. A adesão deste segmento é visto como a redenção para o sustento de times e jogadores.

- É complicado dar esse apoio todo porque quase nunca os empresários recebem propostas decentes. Algumas pessoas se passam por presidente de time, técnico e até jogador, mas não têm consistência no que falam. É difícil ter credibilidade - alega Cláudio Galeno, presidente da CDL.

Viver apenas de renda de bilheteria é ultraje. Contudo, o time feminino do Picos fez da campanha na Copa do Brasil o momento ideal para a entrada de capital. Segundo o presidente do clube, a média de público era de três mil torcedores por jogo, com arrecadação de R$ 25 mil na bilheteria do estádio Helvídio Nunes. Embora a luta solitária, o enxame promete se manter unido, com ou sem apoio empresarial. À espera da chance de defender as Abelhas Rainhas novamente no cenário nacional, a pequena Juliana Sátiro, de apenas 15 anos, carrega nas costas a esperança de renovação do time que voltou os olhares ao município.
- Vejo uma responsabilidade muito grande. Sou muito nova e sei que vou ajudar a renovar a equipe. Mesmo não jogando, estive no grupo que disputou a histórica Copa do Brasil do ano passado. Aquela energia positiva motivou a gente. Estamos nos preparando muito. É só manter força e a garra e mostrar o que a gente sabe fazer: jogar futebol. 



FLAMENGO-PI


Problemas judiciais e sem sede: o caos administrativo do Flamengo-PI

Quem passa pela BR-316, na altura do Bairro Bela Vista, na Zona Sul de Teresina, notou uma mudança na paisagem. O local onde ficava a antiga sede do Flamengo-PI é atualmente um canteiro de obras, onde está sendo construído um empreendimento comercial. A venda para um grupo do ramo varejista, lavrada em cartório em dezembro de 2013 pelo preço de R$ 9 milhões, levanta dúvidas e questionamentos por parte de torcedores.

A primeira coisa que chama a atenção é que, na verdade, o imóvel não constava em documento como sendo de posse do clube. Na certidão a qual o GloboEsporte.com teve acesso, ainda constava o nome da antiga proprietária, Maria Robertson Sales Parente, que vendeu o terreno ainda nos anos 80.

A tradição do Flamengo-PI no futebol piauiense é inegável. O clube é o segundo maior vencedor do Estadual, com 16 títulos, além de ter o maior número de participações na Copa do Brasil entre os clubes do estado; 11 no total. Por outro lado, o Rubro-Negro enfrenta dezenas de ações trabalhistas movidas por ex-atletas e ex-funcionários, o que dificulta diretamente a situação financeira. O acúmulo dessas dívidas junto à Justiça do Trabalho é apontada no clube como um dos motivos para a venda da propriedade.

Quem observa os resultados do Flamengo-PI dentro de campo pode imaginar um clube em situação invejável. Nos últimos três anos, a equipe esteve sempre entre os 4 primeiros colocados do Campeonato Piauiense, além de ter vencido as últimas duas edições da Copa Piauí. Extracampo, no entanto, a situação anda longe de ser confortável. Com um amontoado de ações judiciais contra o clube e os gestores, além de estar sem local próprio para treinar após uma polêmica venda da sede, o Rubro-Negro piauiense se vê imerso em um caos administrativo. O grupo entitulado "Resgate Flamengo-PI" entrou com uma ação junto ao Tribunal de Justiça Desportiva (TJD-PI) questionando a legitimidade do mandato de Jankel Costa como presidente do clube. Segundo a denúncia, o dirigente estaria ocupando ilegalmente o cargo que teria findado há dois anos. O cartola se defendeu alegando que uma mudança no estatuto alterou o tempo de dois para quatro anos de mandato, o que torna regular sua administração.
Contudo, o Flamengo-PI encontra-se a menos de três meses da rodada de abertura do Estadual 2015 contra o 4 de Julho e pouco - ou quase nada - foi construído no que deveria ser o novo endereço rubro-negro. Enquanto isso, a sombra de insegurança insiste em perseguir a Raposa.


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