sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

RAIO X DOS CLUBES PIAUIENSE PARTE I


4 DE JULHO


Prefeitura Futebol Clube: gabinete e campo deixam Colorado dividido

A bola não rola dentro de um gabinete de prefeitura, mas a coligação futebol e política têm tornado os clubes piauienses cada vez mais dependentes das verbas do chamado “setor público”. A associação, entretanto, não traz flores. Pelo contrário: é um risco, longe (e muito) de ser um bosque encantado. Os bastidores e brigas pelo poder acabam deixando espinhos que machucam jogadores, torcedores e transformam equipes em verdadeiros “Prefeitura Futebol Clube”.

A situação não se restringe apenas a um clube piauiense, mas esteve ligada à campanha do 4 de Julho, time da cidade de Piripiri, nesta edição do Piauiense. Por conta da troca do comando no município, houve um choque de interesses entre a presidência do Colorado e o principal patrocinador, a prefeitura do município, que defendem partidos políticos diferentes. A rixa gerou um colapso no clube, que ficou ameaçado de não atuar, teve desmanche de elenco e começou a preparação faltando sete dias para o começo do campeonato.
O modelo de gestão concentrado apenas nos recursos das prefeituras apresenta resistência popular. Mesmo assim, esse caminho continuar a ser trilhado por clubes do interior do Piauí. No caso do 4 de Julho, os jogadores tiveram que tomar uma atitude extrema este ano. Deixaram as chuteiras de lado e agendaram uma reunião com o prefeito da cidade para intermediar o conflito extracampo. A conversa surtiu efeito, e o time recebeu repasses municipais de R$ 30 mil nos quatro meses do estadual. O acordo colocou o Colorado nos eixos: saiu da lanterna para o vice-título do returno.

Além dos R$ 30 mil de repasse da prefeitura, o Colorado sobreviveu no estadual com apoio de outros patrocinadores da região, que desembolsavam valores entre R$ 3 mil a R$ 5 mil. Com a boa campanha no returno – que ocorreu curiosamente com o fim da desavença política no time – o caixa do 4 de Julho melhorou. O time chegou às semifinais com o comando do treinador Luís Miguel e teve aproveitamento de 62%, três vezes mais do que a primeira fase.

A fase acabou incrementando as receita com quatro novos patrocinadores. De acordo com o diretor Ludjalma Sousa, o clube conseguiu, no sacrifício, honrar os salários dos jogadores, que tinham como teto R$ 2,5 mil. Para o gestor, a dependência financeira dos clubes com as prefeituras acaba se tornando um vício que origina acomodação e, no fim, resulta na preguiça dos dirigentes.
Uma rápida passada no mercado municipal de Piripiri é fácil encontrar personagens que traduzem o sentimento da torcida colorada. Simplício Escórcio, o “Branco”, é um deles. Fanático, o açougueiro acompanha ao time desde 1986, da época em que era amador até os áureos 93, 94 e 2011 – títulos na era profissional. Ao lado, há o boxe da Dona Graça. A cozinheira garante o almoço dos jogadores quando a vitória vem. Deles, fica a mensagem.

- O 4 de Julho é de Piripiri, dos torcedores. Não é partido.


BARRAS


História contata por Chicos: o Barras nos olhares dos torcedores

Há dez anos, nascia um leão. Na “selva”, o jovem mascote era mais um e dividia atenções com tubarão, galo, rato, raposa e águia. O rugido, apesar da pouca idade, impressionou pela força. Com três anos de fundação, o Barras disputou a Série C do Campeonato Brasileiro de 2007. A campanha, passados sete anos, ainda é a melhor de uma equipe piauiense no torneio: uma sétima colocação entre 64 participantes. O feito até hoje enche os torcedores de orgulho, mas bastam horas em visita a cidade do Leão para perceber o sentimento de perda gradativa de memória.

Em oito participações na primeira divisão do Campeonato Piauiense, o Barras foi vice-campeão três vezes (2006, 2007 e 2010), conquistou um quarto lugar (2009) e foi campeão em 2008. Nos últimos dois anos, o time caiu de rendimento, com uma campanha que o deixou em sétimo lugar. Em 2014, por exemplo, apesar de ir às semifinais do primeiro turno, o Leão somou cinco derrotas, cinco empates e cinco derrotas.

Caminhando pelo Estádio Juca Fortes, terra do Leão do Marathaoan, facilmente personagens são encontrados. Eles, claro, guardam as histórias de sucesso do time do coração. Um deles é figura cativa, Francisco de Melo Rodrigues. O bigode bem desenhando, no grau, carrega a história de 74 anos do barbeiro e também motorista que possui um salão nas dependências da praça esportiva.

Com pôsteres do time barrense na parede, ao lado de fotos da família, Francisco não esconde a frustração de ter o futebol fora dos padrões de beleza. O ideal, no som baixo de sua resposta, é ver o seu time sempre com vitórias. Ao lado, outro Chico revive a época de glória do Barras. Francisco Vieira, webdesigner, desenvolveu o site do clube quando o time viveu seu melhor período, a campanha da Série C. De um sonho de um grupo de desportistas da cidade, o Leão contagiou, mas teve seu apogeu enfrentando problemas financeiros.
-Eu ia ver os jogadores, mas as últimas competições não foram muito bem sucedidas. Assistir ao Barras jogando é um orgulho da nossa cidade, da cultura, ou seja, de quem é apaixonado pelo futebol. Não sei porque estamos assim, era um prazer ver os jogos - narra o fotógrafo.
Do muro caído, o silêncio do Juca Fortes é quebrado por um barulho de moto. Do veículo, desce Manoel Morais, massagista do clube. Meio ressabiado com a presença de uma reportagem em um período sem futebol, o profissional cede e faz uma constatação: trabalhar no futebol é para quem ama, principalmente com as dificuldades do estado. Integrante da equipe do Barras na Série C de 2007, Manoel passou pelo Flamengo-PI no ano de 95 e compôs o time do 4 de Julho na Copa do Brasil.

- Trabalhar em uma Série C foi ótimo, oportunidade de crescimento. O primeiro passo do futebol piauiense é subir de divisão porque o Piauí irá aparecer apenas quando um time estiver no auge, exemplo do Barras no Brasileiro de 2007. É preciso profissionalismo não apenas da diretoria, mas também dos jogadores que precisam render – comenta.

Na despedida do Juca Fortes, após pegar materiais guardados em uma salinha do estádio, Manoel diz:

- Determinação é a palavra.


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